O Dízimo e o
Novo Testamento
Quando as pessoas hoje dão o dízimo
em suas congregações, para quem vai o dinheiro? No Tanách, se alguém tivesse um
cordeiro e quisesse dar um presente ao Senhor, ele o levaria ao sacerdote e o
queimaria sobre o altar. O sacerdote tomava o seu pedaço e o que sobrava era
queimado. Todavia, o cordeiro era dado ao Senhor. No Novo Testamento, Paulo
disse que ele estava coletando dinheiro para os crentes pobres em Jerusalém (Rm
15:26). Ele nunca disse que seria uma oferta para o Senhor. No entanto, na
Torá, quando as pessoas davam dinheiro ao pobre, isto também era considerado
uma oferta ao Senhor. A Torá ordenou o povo a trazer os sacrifícios e a dar
vários diferentes tipos de dízimos. Eles tinham um dízimo para os sacerdotes e
levitas e também tinham que deixar algumas de suas colheitas no campo para
alimentar os pobres. Os israelitas antigos tinham diferentes tipos de doações,
mas o Novo Testamento nunca ordena a dar o dízimo. Portanto, para que um pastor
hoje possa pedir o dízimo, ele deve formar uma halacha de um
exemplo ao invés de mostrar um mandamento, uma vez que este não existe no Novo
Testamento. Lembre-se que halacha significa “andar,” e nós
queremos saber como andar pela fé em nossas vidas diárias.
Além do exemplo dos Israelitas doando
dinheiro para o Templo, há exemplos de doações no Novo Testamento que podem ser
usados para sustentar o conceito de dízimo. Romanos 15:27 diz: “Isto
lhes pareceu bem, e mesmo lhes são devedores; porque, se os gentios têm sido
participantes dos valores espirituais dos Judeus, devem também servi-los com
bens materiais.” Este versículo essencialmente diz que os crentes não
Judeus devem ser tão gratos pela bênção espiritual de conhecer o Messias Judeu
que deveriam ser motivados a “devolver” financeiramente esta benção aos pobres
entre o povo Judeu. 1 Coríntios 16:1-2 diz: “Quanto
à coleta para os santos, fazei vós também como ordenei às igrejas da Galácia.
No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a
sua prosperidade, e vá juntando, para que não se façam coletas quando eu for.” Estes
dois exemplos lidam com o mesmo contextoem que Paulo estava levantando dinheiro
de suas congregações para ajudar os pobresem Jerusalém. A única autoridade,
portanto, pela qual os pastores de hoje coletam dízimos, é tomando o exemplo do
que os primeiros crentes fizeram, aplicando-o ao contexto de hoje.
Tanto a Igreja como o povo judeu
fazem muitas coisas que não foram ordenadas diretamente nas Escrituras. Uma
delas é a reunião no fim de semana. O Novo Testamento nunca ordena a igreja a
se reunir todo Domingo. Existem exemplos apenas de crentes se reunindo. Em Atos
20:7, vemos que os discípulos se reuniam aos sábados à noite: “No
primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo,
que devia seguir viagem no dia imediato, exortava-os e prolongou o discurso até
à meia-noite.” A partir daí, os cristãos desenvolveram uma tradição de
se reunirem no primeiro dia da semana ocidental, que é domingo. Hebreus
10:25 nos instrui a não negligenciarmos as nossas reuniões, mas nunca
especifica com que freqüência estas reuniões deveriam acontecer. Os judeus
ortodoxos se reúnem para orar duas ou três vezes todos os dias baseados no
exemplo das três ofertas diárias oferecidas no Templo. Por outro lado, os cristãos
baseiam a idéia de uma reunião semanal aos domingos no exemplo desta passagem
de Atos 20.
Outra prática atual que tomamos de
exemplos Bíblicos é a questão do que fazemos quando nos reunimos. Em Atos
2:42,46 diz: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na
comunhão, no partir do pão e nas orações(…). Diariamente perseveravam unânimes
no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria
e singeleza de coração.” Baseados nesta passagem, nós oramos, temos
comunhão, partimos o pão e estudamos juntos as palavras dos apóstolos quando
nos encontramos. Não jogamos bingo ou temos loterias porque não temos qualquer
ordem ou exemplo disso. O grande modismo atual de se ter louvor e adoração com
música, bandas, bailarinos e tamborins, não vem do Novo Testamento. Na verdade,
o Novo Testamento nos diz apenas para cantar e nunca menciona qualquer coisa
sobre instrumentos. O costume atual de usar instrumentos é tirada de exemplos
de textos no Antigo Testamento.
Outra coisa que fazemos pelo exemplo
é a Ceia. Yeshua ordenou aos Seus discípulos na noite da Páscoa: “Fazei isto em
memória de mim,” referindo-se ao partir o pão. Ele nunca disse com que
freqüência deveríamos celebrá-la, mas nós sabemos que devemos celebrá-la porque
Ele ordenou. É por isso que algumas igrejas hoje têm comunhão todo
dia, algumas uma vez por semana, algumas uma vez por mês e outras apenas uma ou
duas vezes ao ano. Tudo que nós temos são exemplos do modo como a Igreja do
primeiro século operava. Os exemplos interpretam o mandamento. Os exemplos
constituem uma midrash simples.
A dificuldade surge hoje porque nós
vivemos no século XXI em uma cultura diferente, e temos necessidades diferentes
das que eles tinham no primeiro século. Nós temos que
continuar fazendo midrash e usando exemplos Bíblicos
para atender às necessidades de nosso próprio contexto cultural. Para fazer
isto corretamente, não podemos ignorar a Torá. Quando líderes cristãos que se
opõem à fé Messiânica dizem: “Nós não precisamos da Torá”, ou ainda, “O Velho
Testamento não deve ser algo normativo para a vida do Cristão”, eles deveriam
parar de pedir ao seus membros para darem o dízimo, uma vez que o único lugar
que fala sobre dízimos é no Antigo Testamento. Se uma pessoa rejeita a Torá,
então ela teria que rejeitar também o princípio de entregar o dízimo. Por que
tantos cristãos tomam louvor e adoração ou dízimos e prosperidade do Antigo
Testamento, e rejeitam todo o resto? É hipocrisia dizer, “A Torá já acabou e
não se aplica a nós,” e escolher guardar apenas o que é “interessante” da Torá,
jogando fora todo o resto. Quando os judeus vêem que os cristãos tiram e
escolhem, tem-se um péssimo testemunho de integridade e coerência religiosa.
Extraído do Livro: Tesouros Ocultos –
O Método Judaico do Primeiro Século para Entendimento das Escrituras, de Joseph
Shulam. Lançamento oficial no 7º Congresso Restauração – 09/02/2013. Participe: www.congressorestauracao.com
Autor: Joseph Shulam
Considerado um dos
teólogos de maior renome na atualidade. Residente em Israel desde 1948, é
presidente do Instituto de Pesquisa Bíblica NETIVYAH, em Jerusalém – Israel e
fundador da Congregação Roê Israel (pastor de Israel), uma das primeiras
congregações de judeus messiânicos (discípulos de Jesus) do Estado moderno de
Israel. Autor de renomados comentários do Novo testamento, é formado em
Arqueologia e História do Judaísmo pela Universidade Hebraica de Jerusalém. O
pastor e professor Joseph Shulam leciona em vários países do mundo ensinando
sobre a restauração da Igreja do Iº século. Joseph é co-fundador do Ministério
Ensinando de Sião – BRASIL.
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